quarta-feira, 4 de maio de 2011

A Arte Contemporânea no Dia de Hoje

A arte contemporanea é a que se faz hoje. Contemporâneo, é o que pertence ao nosso tempo. Isto não significa que muitos artistas que estão produzindo atualmente o façam com a linguagem do “hoje”. O legado que a Arte Moderna nos deixou é rico o suficiente para ainda influenciar artistas em todo o mundo.
A arte de linguagem contemporânea, como diz o crítico Alberto Beuttenmuller, é aquela que traz as influências características desta época: são as performances, as ocupações de espaço, as instalações,as interferências, a arte virtual. Quase todas efêmeras e circunstanciais.
A pintura, a escultura, gravura e outras técnicas muito usadas na manifestação artística do homem enfrentam hoje o desafio de atualizar-se , de inserir-se nestes tempos de individualizações e de imagens, instantâneas. Superar a riqueza do Periodo Moderno ou introduzir um novo discurso: eis o desafio de fazer arte na contemporaneidade.












Na História, a Idade Contemporânea compreende o período de tempo que vai da Revolução Francesa (1789) até hoje. O período entre o fim da Idade Média (por volta de 1500) e a Revolução Francesa é chamado de Idade Moderna. Por este conceito, Caravaggio (1571 – 1610) seria moderno, e Claude Monet (1840 – 1926) e Joan Miró (1893 – 1983) seriam contemporâneos.Nas artes, deu-se o nome de Modernismo aos movimentos surgidos no início do século XX, como o Cubismo, Surrealismo etc. Seguiram-se outros movimentos (Op Art, Por Art) e que é produzido atualmente é carimbado como “arte contemporânea”. Por este conceito, Miró seria moderno, mas nenhum dos três artistas seria contemporâneo. Contemporâneo significa, nos dicionários, “o que é de hoje, dos dias atuais”. Neste conceito, nenhum dos três pintores faz arte contemporânea; entretanto, todos os três já fizeram, em seu tempo! Quando Caravaggio pintava, em 1600, estava fazendo “arte contemporânea”, isto é, a arte do seu tempo.  Como a arte de hoje, a mais inovadora, ainda não recebeu um nome oficial, “arte contemporânea” passa a ser o nome provisório para o “movimento”. Se um pintor de hoje fizer um quadro que no tema, no estilo etc. arremeta a Caravaggio, não estará fazendo arte contemporânea. Mas se fizer um vídeo aparentemente desconexo, estará. Alguém que pintasse, hoje, ao estilo de Miró, ainda estaria fazendo arte contemporânea, pois seu quase Abstracionismo ainda não foi superado.
Quando se fala de “arte contemporânea” é comumente deste quarto sentido que se está a dizer. A arte contemporânea gera muito preconceito. É quase sinônimo de rejeição e escárnio.
Quero analisar a arte contemporânea, pensar sobre ela, entendê-la. Mas não parto de um ponto neutro: parto destes pré-conceitos, que compartilho. Meu ponto de partida é: “a arte contemporânea é lixo, feita por um bando de narcisistas que ou não conhecem a História da Arte ou se aproveitam dos que não a conhecem para aparecer”. Este é meu pensamento inicial.
Para mim, a Arte (estou utilizando “Arte” como sinônimo de “Pintura”) morreu com Picasso e Duchamp. Mais especificamente, com uma obra de cada um. “Les demoiselles d’Avignon” (1907), pintura de Pablo Picasso, inaugurou o Cubismo e matou a figuração. “A fonte” (1917), o urinol de Marcel Duchamp, disse: “Arte é o que eu quiser chamar de ‘Arte’”.
Agora, visitamos uma exposição e encontramos, digamos, uma cadeira derrubada. Ao seu lado, uma plaquinha com um título como “O amor”. No lugar da cadeira, poderíamos ter um chave-de-fenda, um travesseiro, um gato empalhado. O título poderia varia, também: “O amor nos tempos da internet”, “Picasso me enviou uma carta” ou “Abre aspas, fecha aspas”. Qualquer bobagem assim. Desconexa, com cara de significados “profundos” (um travesseiro intitulado “Abre aspas, fecha aspas”… O autor quis nos falar dos sonhos?), mas ridiculamente vazia (já que escolhi o objeto e o título por sorteio, logo, não queria “dizer” nada, “provocar” nada).
Obras aparentemente inovadoras povoam as exposições e galerias, mas não cansam de remeter a uma obra quase centenária.
Inovador e chocante mesmo foi Gustave Courbet, com seu “A origem do mundo”, em 1866 – uma vagina ocupa em vergonha nenhuma o centro da tela.
Admiramos e idolatramos Coubert, Picasso e Duchamp. Desprezamos os artistas de hoje, dizendo que “querem apenas aparecer”, “querem chocar por chocar, querem manipular o público e a mídia, para enriquecerem”, “fazem isto porque não têm talento para fazer belas pinturas” etc.
Mas, se pudéssemos voltar no tempo… Se voltássemos a 1866, ou a 1907, ou a 1917… O que acharíamos de Courbet, Picasso e Duchamp, respectivamente? Será que não lhes acusaríamos das mesmas coisas (narcisismo, incompetência técnica etc.)? É possível. Talvez seja provável.
A conclusão dolorida é que não passamos de um bando de reacionários, conservadores. Agora admiramos Courbet, mas, se vivêssemos em 1866, e estivéssemos vendo a arte contemporânea daquela época, isto é, “A origem do mundo”, reagiríamos como reagimos com a arte contemporânea de hoje. “Milhões? Não pagaria nem dez centavos por isto!” Não te envergonha ver-te assim como uma mentalidade retrógrada de 1866? Pois és a mentalidade retrógrada de hoje e não sabes.
Nossos parâmetros de avaliação para a arte contemporânea, portanto, não podem ser certos preconceitos que temos. É óbvio que a arte contemporânea está cheia de falsários. Mas seria absurdo pensar que os milhares de artistas em atividade atualmente sejam todos falsários. Alguém deve se salvar. Complicado será separar uns e outros.
*
Por mais que achemos a arte contemporânea um lixo, um pastiche completo, se formos falar da História da Arte teremos que incluí-la. Qualquer História precisa chegar até o hoje. Mesmo que seja para dizer que é um lixo por completo. Mas alguém está fazendo este lixo. Aliás, milhares estão fazendo.
Contudo, ao escrevermos uma História, uma grande preocupação deve ser não dar peso demais ao atual, porque nem tudo o que hoje tem significado será lembrado daqui a cem anos. Desta forma, o historiador tem de ter certa perspicácia, certa autonomia, quando fala sobre os dias de hoje. Aqui ele tem de selecionar, sem contar com o filtro do tempo.
Será necessário, portanto, separar uns e outros, entre os contemporâneos. Dezenas são “importantes”, se abrirmos os cadernos de cultura dos jornais. Mas os apenas importantes não ficarão para a História da Arte. Ficarão apenas os muito importantes.
Mesmo que estejam a fazer lixo. Mesmo que estejam a repetir Duchamp. Em uma aula de História da Arte, daqui a 50 anos, poderá até ser dito: “no início do século XXI, nada de novo era produzido; continuava-se a repetir Duchamp; o mais famoso destes continuadores da tradição foi…”. Mas algo tem de ser dito. Não pode haver um buraco na História. É muito grande a tentação de encerrar a História em Andy Warhol. Mas não pode ser assim.

Esta foi a nossa segunda postagem, logo mais postaremos mais coisas legais.
Até Mais !!

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